Nas relações sociais (familiares, afetivas, profissionais e acadêmicas), as pessoas são impulsionadas a pensar, agir, e sentir como a maioria, sem grandes questionamentos. Soma-se a isto a influência das mídias sociais e.... Não sobra tempo (e as vezes, nem interesse) em questionar regras. Desta forma há um prejuízo considerável na individuação.
Como ser "si-mesmo" quando não há espaço para isso?
Para muitos, pensar de maneira não-coletivista pode ser considerada uma falta grave, pois acredita-se que, uma vez pertencente a determinado meio, deve-se pensar, agir e sentir como a maioria. Qualquer pensamento opositivo seria uma afronta. E desta forma, as relações se tornam confluentes ( Que se assemelha a algo; que vai de encontro ao mesmo aspecto e se encontra em algum ponto comum.).
Ao contrário do que se imaginava, as relações confluentes não trazem felicidade; ao contrário, geram muita ansiedade, pois privilegia-se o interesse da maioria em detrimento dos interesses individuais.
Algumas pessoas só se conscientizarão de que há algo errado, quando sua ansiedade estiver em graus elevados. Neste ponto é necessário que se iniciem os exercícios de autoconhecimento para chegar à individuação que é um processo longo e complexo, onde uma pessoa busca sentir, pensar e comportar-se de forma única e original.
Para Jung (2008)
Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por "individualidade" entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si-mesmo. Podemos pois traduzir "individuação" como "tornar-se si-mesmo" (Verselbstung) ou "o realizar-se do si-mesmo" (Selbstverwirklichung).(p. 60)
Naturalmente, este caminho para a individuação não é linear: é possível que nesta viagem em busca de si mesmo sejam encontrados inúmeros obstáculos, ladeiras íngremes, trechos inacabados e falta de iluminação.
Algumas pessoas se detêm diante dos primeiros obstáculos, voltando para suas "confortáveis relações confluentes", onde não não necessidade de tomar as próprias decisões. A está em dizer "não" Aquilo que não lhe serve. Não estou sugerindo que a pessoa em processo de individuação se transforme em um rebelde e se oponha a tudo, mas que pense por si mesmo. Mesmo quando tenha que concordar com as imposições do meio social, saiba o porquê está cedendo.
MAY (1978) aponta que “a individualidade é uma das
facetas da autoconsciência” (p. 78). Na vida moderna, aparentemente, as individualidades passam por um processo lento e gradual de aniquilação, restando apenas um vazio interior, que May (2008) conceitua como:
“Resultado acumulado, a longo prazo, da convicção pessoal de ser incapaz de agir como uma entidade, dirigir a própria vida, modificar a atitude das pessoas em relação a si mesmo, ou exercer influência sobre o mundo que nos rodeia” (p. 22).
O caminho da individuação exige que a pessoa desenvolva o sentido de autoconsciência, a fim de que possa enxergar-se a si mesmo, compreendendo de que forma se coloca no mundo, desenvolvendo formas de agir, pensar e sentir singulares, opondo-se ou não ao seu meio social.
Opor-se ao meio não é algo que precise ser feito com hostilidade: existem formas sutis de oposição, que não trarão prejuízos a ninguém.
Este caminho não tem fim. É importante que seja trilhado de maneira original a cada minuto. É nesta caminhada que encontramos o bem-estar.
Referências:
JUNG, Carl Gustav. O eu e o Inconsciente. 21 ed. Ed. Petrópolis: Vozes Ltda., 2008
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. 6. Ed. Petrópolis: Vozes
Ltda., 1978.
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